terça-feira, 30 de junho de 2020

- criada em meio a fumaça -


Na sacada do seu apê
Cercada com suas plantinhas
Seu olhar é distante
Pensativo
Pesado
Em sua mão direita um cigarro Kent
Cada tragada é como se fossem problemas sendo trazidos para seu íntimo
Cada fumaça liberada, é como se fosse o corpo expelindo esses problemas
Eles não pertencem a este corpo
E mesmo se pertencessem, era hora de tirar isso ali
Estou aqui quietinho ao seu lado
Apenas observando
Dentro da fumaça que vai se perdendo
Neste momento não sou importante
Vou sumindo com a fumaça
Notei que ela não olha nos olhos
Logo, não me notaria aqui
Não agora...e isso não é um problema neste momento
Talvez agora esteja um pouco mais pensativa
Assim ela termina os últimos tragos
Libera essa fumaça
Tudo está ficando calmo agora
Em seu rosto uma pequena brisa bate
Entra por entre seus cabelos
Passa pelo seu rosto
Se mistura com seu cheiro
A brisa passa
Passageira
Assim como os problemas que estão em sua mente agora
Ei pequena, não pense tanto
Você não faz nem ideia de sua força
Talvez você mesma tenha colocado essas amarras
Hora de tirar, o que acha?
Seja a brisa que passa
Linda
Leve
Refrescante
E marcante
Percorra o corpo
Deixe percorrer o seu corpo
Conhecer seu íntimo
Seja a brisa
"Simões"
Não deixe esse medo perdurar a noite toda
Encare este medo e sorria de volta
Sorria
Só ria
O medo será transformado
Não pense que isso tudo é apenas um sonho
Afinal, se for um sonho e tivermos perto de acordar
Você aproveitou como deveria?
Neste momento, ela acende outro cigarro
Já consigo notar um tímido sorriso surgindo
Isso pequena
Já é um ótimo começo!
Seja "Simões"

Diogo Guedes
30/06/2020

segunda-feira, 22 de junho de 2020

- modificar, sonho, libélula -


Muitas coisas simples estão aqui para alegrar
Deixar o corpo com a alma leve, acalmar
A alma levemente se desprende do corpo... o toque tem sua missão, acalentar
Os corpos frios estão aqui, juntos para aquecer
Hoje não vou pensar nos problemas do mundo, fechei os olhos apenas para esquecer
Olhos fechados, estico os braços para alcançar
Você não está próxima, passos para trás para disfarçar
Simples, mas tudo faz meu sorriso brotar
A brisa da varanda entra, corre o rosto. A sensação é a mesma que flutuar
Sinto-me como meu copo de uísque, errei a mão e estou prestes a transbordar

A cor do cabelo pouco importa
A música que toca já não me incomoda
Acho até que ela começa a fazer parte de bons pensamentos
A silhueta que trafega começa a ser simples, assim como o vento
A fumaça do cigarro brinca na varanda
Fico aqui, sentando olhando... quase uma ciranda
O olhar é leve e horizontal, se perdem junto com os acordes
Suas músicas são cheias de mistérios e segredos
Sou encarado com o olhar... simples, olho de volta e sorrio
Cruzo a perna, espero o contato, nunca dei tanto valor ao tato

O toque vem com a suavidade da vida, já não me recordo... tocava música?
Penso neste mesmo instante, minha mente é um turbilhão, como posso ser lúcido?
Entrei em transe e penso "não transe" ainda estou tímido
Cada novo toque, sinto meu barco virando em alto mar, como sobreviver ao náufrago?
O copo virou sobre mim, ingeri toda minha intensidade, me tornei um bêbado
Bêbado de mim, do que está sendo criado em minha mente, mais um gole... o último
Tudo se tornou turvo e bagunçado era segunda quando dormi, hoje já é sábado
Quanto tempo fiquei aqui? Olho para o lado, encaro meu íntimo
Não te enxergo neste instante. Estava na varanda, fugiu como um pássaro
Tudo parou, acabou o tato, o trato... tudo se tornou líquido, até pouco era sólido

Diogo Guedes
22/06/2020

- aluguel seis -


Ruth Garcia tinha 17 anos
Morava a poucos quilômetros do apartamento de Rafael Almeida
Não trabalhava para nenhuma agência
Muitas vezes seu contato com os clientes era em esquinas
Poucos anúncios em jornais e só
Ruth Garcia foi abandona pela mãe aos 12 anos de idade junto com sua irmã
Uma família conturbada
Um pai alcoólatra que agredia sua mãe
Uma mãe dependente de crack
Duas meninas assustadas e completamente perdidas
Sua família fundou-se depois que sua mãe cravou uma faca nas costas de seu pai
As humilhações, torturas e coragem do crack, a ajudaram em sua ação
Logo depois, uma fuga para o nada
Ruth com 12 anos e sua irmã com 14 anos
Um barraco e mais nada
A escolha pela "vida fácil" acabou sendo uma saída
Vida essa que de fácil não tem nada
Dois anos antes sua irmã foi assassinada por um cliente
O cliente tinha como pré-requisito garotas com idade inferior a 18 anos
Depois de uma discussão no apartamento, alguns tapas e socos
Um apertão no pescoço e o serviço foi finalizado
Sem chance para fuga
Sem pagamento
Sem retorno
O corpo foi abandonado em uma viela a poucos metros dali
Para todos apenas uma prostituta que deve o que buscou
Para Ruth Garcia, um combustível para lutar
Um combustível para encontrar o assassino de sua irmã
Ruth Garcia encontrava-se sentada no sofá em seu cubículo
Pés descalços
Fumava um cigarro
Sua cabeça insistia em pedir para retornar para o apartamento de Rafael Almeida
Era necessário recuperar sua bolsa
O risco... sua saída do apartamento não foi das melhores
Rafael Almeida certamente dificultaria tudo novamente
Ruth Garcia fumou mais alguns tragos
Levantou-se
Deu voltas
Sentou-se
Pegou a foto de sua irmã
Pensou... o serviço precisaria ser finalizado
Finalizou seu cigarro e tomou coragem
Trocou seu vestido rasgado
Uma calça jeans surrada
Camiseta branca com estampa do Kurt Cobain
Tênis Nike branco
Pegou outro cigarro
Guardou o restante no bolso
Caminhou em direção a porta
Quase que simultaneamente ao tocar na maçaneta para abrir a porta
Sua campainha tocou
Um susto
Ela não recebia visitas
Abriu a porta
Um rosto lhe encarava 
Certamente eles nunca se viram antes
O rosto que lhe encarava falou com voz firme
- Entre, vamos conversar
Poucos segundos depois a porta se fechou atrás do dois

DeLaRoja
22/06/2020

domingo, 21 de junho de 2020

- quarentena_cinquenta e dois -


Pois bem
Inesperado como tudo em nossas vidas
Completamente fora de prumo
Sem nenhum tipo de planejamento
Nada foi pensado
Nada foi projetado
E onde nos encontramos agora?
Exatamente aqui
O corpo físico aqui
A mente... a mente não
Ela não está aqui neste momento
Nem poderia
Nem deveria
Neste momento está um cadim pra frente

Logo ali
Pois bem
Inesperado como tudo em nossas vidas
Hoje prometi:
"não quero entender... é viver o vidão de Deusão
vivos nos resta viver"
Tudo vai passar?
Não sei
Hoje não sei
Amanhã talvez tenhamos uma resposta
Ou não
Isso não importa neste momento
Já está tudo bagunçado
E a bagunça esquentou o corpo
Acho que as ideias começam a obter clareza
Já está tudo bagunçado
Vamos começar a organizar isso aí
Aproveitando... deixa, depois eu falo
Posso pegar um cigarro?

Diogo Guedes
21/06/2020

quarta-feira, 17 de junho de 2020

- gol do Mengão -


Ei meu rapaz
Virou estrela, foi?
E nem avisou nada, né?
Deixou todo mundo aqui, morrendo de tristeza
E meu rapaz
Eu acreditei bastante que iríamos gritar "gol do Mengão" no Maracanã
Ainda vamos né?
Fique com Papai do céu meu querido
Acho que hoje mais do que nunca, você sabe que te amo né?
Virou estrela
Olhe por nós daí, combinado?
Vou cuidar das suas coisas daqui
Te amo rapaz
Meni
Padrinho
Paulo Messias!

Diogo Guedes
17/06/2020

domingo, 14 de junho de 2020

- bloqueio -


Um bloqueio fantasmagórico percorre meu corpo neste momento
As palavras estão submersas em tantos pensamentos
E neste momento não conseguem se unir
Criar algum sentido
A música está tocando
Não está trazendo nada
Uma música diferente
Nova para meus ouvidos
Os pensamentos estão gostosos neste momento
São quentes e perfumados
Quase transportados por um curto sorriso
Estou tentando apreciar minha bebida
Moderação precisa ser algo praticado
Nunca tive muita durante meus goles
"deixa eu bagunçar você"
Estou extremamente bagunçado neste momento
Quem poderia bagunçar ainda mais?

Diogo Guedes
14/06/2020