sexta-feira, 8 de maio de 2020

- alguém apaga a luz -


Fui ao riacho ali do lado de casa
Mergulhei minhas mãos na água
Puxei até meu rosto
Repeti o movimento três vezes

"neste momento estou em frente ao meu computador
inspiração zero, cerveja treze"

A cada movimento de lavar o rosto era uma vida nova que ganhava
Quase um "check point" do vídeo game
Alimentei a alma com tudo que ruim que poderia pensar
Joguei fora
Não é momento para fazer isso
Jamais deixaremos isso aqui se continuarmos pensando nisso aqui

"neste momento estou em frente ao meu computador
inspiração zero, cerveja catorze"

Levanto-me da margem do rio
Rio esse que chamo de vida
Lavei meu rosto no espelho da minha vida
O reflexo é turvo
Embaçado
Igual tudo agora
Sabe o mais incrível disso tudo?
É só esperar um pouco, a água volta a correr normal
Deixa de ser embaçada
Deixa de ser turva

"neste momento estou em frente ao meu computador
inspiração zero, cerveja catorze e três quartos"

Em pé
Em frente à margem do rio
Olho para a frente
Encanto meu reflexo no meu espelho
Estive no meu banheiro esse tempo todo
Era só uma crise
Houve muita cerveja na mente de hoje
Poros nem gosta tanto de escrever por aqui
E rapaz, posso te falar uma coisa?
Eu sou completamente apaixonado por você!
Tu é o Poros da Alegria!

"neste momento estou em frente ao meu computador
inspiração zero, vomitamos... acontece"

Poros da Alegria
08/05/2020


segunda-feira, 4 de maio de 2020

- de leminski... toda poesia -


ópera fantasma - (p. leminski_página 278)

Nada tenho.
Nada me pode ser tirado.
Eu sou o ex-estranho,
o que veio sem ser chamado
e, gato, se foi
sem fazer nenhum ruído.

O dia rendeu um pouco de leitura no meu empoeirado Leminski
O dia rendeu uma névoa cinza durante todo o momento em que permaneci acordado
A garganta continua doendo
Minhas coisas não ditas seguem aqui... paradas
Nenhuma enfermidade daqui
Talvez alguma da alma
Hoje ela sentiu-se pesada
Depois de várias semanas, sinto o corpo desregulado com o eixo da minha mente
Neste momento tudo vem em excesso
Os pensamentos
O álcool
A falta de inspiração
A corda amassada aos meus pés, me puxando para baixo
Como Leminski já dizia "nada tenho. nada me pode ser tirada..."
Me sinto um fantasma
Deixando a cena sem ser notado
Vendo as cortinas a sua frente se fechando novamente
Sem ser avisado
Sem uma conversa digna
Apenas sendo fechada
Parto novamente
A força
Sem querer partir
Sem ruído
Como se nunca tivesse existido
Talvez realmente não tenha
Um fantasma que caminhou achando que existia
No final, apenas um fantasma

Diogo Guedes
04/05/2020